“Medicina entre Flores”
Caxambu é um rincão único resguardado entre imponentes montes, membros da serra da Mantiqueira. Não é mais um belo vale das Gerais, é a menina dos olhos da mãe natureza. Ora, pois no ventre das suas terras, por muito tempo, ela conglomerou águas que fariam história. Anexou-lhes minerais e enfim, saborosa e medicinal, nos alagadiços que circundavam o sopé do morro Caxambu, atual Parque das Águas ela as revelou. Segundo escritos, desde 1762 já eram conhecidas. Sua história começa decididamente por volta de 1814, com a descoberta do poço de Água Santa, por escravos que ao trabalharem por ali e beberem daquelas águas picantes tiveram alem do paladar aprazido à cura de males do aparelho digestório. Depois destes acontecimentos as águas se afamaram. Além do sabor aguçado, da propriedade medicinal evidente, consideraram-na Santa, por isso o nome do poço. Desde então estas águas foram procuradas incessantemente, principalmente por leprosos, cegos, cancerosos. Entre 1830 e 1840 surgiu um arraial de lázaros a beira dos alagadiços. Estes contaminavam o manancial e afastavam quem realmente pudesse obter curas, portanto foram banidos dali por ordem judicial. O poço sufocado por entulho desapareceu. Mas o renome das águas daquele vale continuou. De 1843 a 1850, João Constantino junto de Oliveira Mafra, fundadores da primitiva Caxambu, laboraram naquele tremedal, grandes esforços descortinando as primeiras fontes nomeadas posteriormente D. Pedro, D. Isabel, Conde D’Eu, Duque de Saxe e D. Thereza, até 1860 desvendaram também os primeiros horizontes da urbanização do lugar com a colaboração de Teixeira Leal. Com isso, a partir desta data, o célebre povoado de “Água Santa” passa a se chamar: “Águas Virtuosas de Baependi”. Sabe-se que desde aquela época, o arraial já recebia personalidades ilustres -evidências do poder curativo das águas- dentre eles: Mestre Padre Correia de Almeida, o Padre Joaquim Vigário de Barbacena, Duque de Caxias, o Senador Teófilo Ottoni, Barão de Juiz de Fora, a Condessa D’Eu. Desenvolveu-se em seu seio, em seguida, uma humilde indústria hoteleira – entre as mais antigas do Brasil – se destacou com a vinda do grande João Carlos Ferraz, o fundador social da hidrópole. Este uma vez estabelecido nesta estância adquiriu seu hotel, mudou os conceitos da viagem infernal que se tornou com ele, achegada e repleta de festejos além de estreitar laços com a imprensa carioca formatando assim, os primórdios da singular hospitalidade Caxambuense regida pelo conforto, elegância e bem estar. Ergueu por volta de 1890, o grande hotel e Cassino João Carlos, aclamado Palace Hotel, empreendimento que eterniza seu exemplo, sua memória. Posteriormente, junto dos esforços de João Carlos, de Dr. Policarpo Viotti, grande médico e benemérito das fontes, se amarravam os de Conselheiro Mayrink, aristocrata que investiu na empresa das águas, na estruturação do parque, na socialização da arte, como também na edificação da Capela de Santa Isabel da Hungria, promessa da Condessa D’Eu que ele consubstanciou. Com a dedicação destes homens, em 1901, Caxambu emancipa-se Baependi e, em 1906, sua capela de Nossa Senhora dos Remédios foi elevada à paróquia sob a direção do Monsenhor João de Deus, quem fez muito pela saúde da alma e especialmente do corpo dos seus contemporâneos. Finalmente, no fechar da primeira década do século XX, consagra-se cidade, regida pelos benefícios urbanos da administração do prefeito, Dr. Camilo Soares. Depois desse período, teve a honra de ser enaltecida por poetas como Ruy Barbosa a quem ela deslumbrou e Olavo Bilac, o qual deixou seu coração cair por suas terras. Assim se desabrochava a soberana estância hidromineral Caxambuense apadrinhada pelas águas, tradicional pelos primorosos hotéis cassinos e privilegiada pela natureza, com uma altitude de 900 metros e clima deleitoso. A cidade, atualmente mantém sua inspiração econômica, o turismo. Seu cartão postal é o Parque das Águas, o maior complexo hidromineral do planeta com doze fontes de águas minerais, vários atrativos de lazer e, sobretudo o balneário centenário recentemente modernizado, oferecendo os melhores serviços de hidroterapia disponíveis. O Morro Caxambu é o maior patrimônio natural da estância, acessado principalmente por um instigante teleférico. Costuma deslumbrar seus visitantes com o panorama admirável que ostenta. Ele precede as águas e a povoação, já era assim conhecido desde o início do século dezoito sendo ele o pai das águas e, portanto, quem legou o nome Caxambu à cidade. E como as saudosas cidades de interior, os que passeiam de charrete em especial, pelas suas veredas podem contemplar belas edificações adornadas por vistosas árvores e pelo carisma de seu povo. Com um amplo e eclético calendário de eventos junto da fidalga e arrojada hotelaria, dos variados restaurantes, lojas e artesanato promove: saúde, a melhor hospedagem do sul de Minas e muitas atrações aos seus aquáticos. Além disso, é anfitriã preferida de conferências de Rotary e Lions, como também de grandes congressos científicos. Sem dúvidas, vale apena conhecer no salutar circuito das águas das Minas Gerais a edênica “Medicina entre flores”.
Caio Penha